“Pedi por ajuda na Delegacia de Defesa da Mulher e no Conselho Tutelar, mas ninguém me estendeu a mão. Agora todos me crucificam pelo que fiz”. Com essas palavras, a dona de casa Maria de Cássia da Silva, 42 anos, avalia a repercussão após o registro do boletim de ocorrência de maus-tratos, na noite de anteontem, em Itu.
Maria foi indiciada após a Guarda Civil Municipal ter constatado que ela acorrentou duas de suas filhas, de 12 e 15 anos, dentro de casa. Segundo a dona de casa, o ato foi de desespero. “Cansei de passar madrugadas pelas ruas, vagando a procura delas, de passar noites em claro, de ser agredida fisicamente e verbalmente.”
Desentendimentos/ Maria contou ao BOM DIA que a jovem de 15 anos sempre deu trabalho, mas, nos últimos quatro meses, está incontrolável e seu comportamento influencia totalmente o da irmã, de 12. “A mais velha começou a namorar um homem de 22 anos, mentindo que ele tinha 19”, conta, acrescentando ainda que as duas só querem saber de ir a um baile funk que fica próximo da casa da família, no bairro Cidade Nova.
De acordo com a mãe, as meninas não entram na escola e já chegaram a passar oito dias desaparecidas. “Tomei essa atitude num ato de desespero, por medo de vê-las envolvidas com o tráfico de drogas ou coisas piores.”
Após o registro do boletim de ocorrência, o Conselho Tutelar levou as duas meninas para um abrigo. “Eu disse na delegacia que abro mão das minhas filhas. Como mãe, isso me dói muito, mas se eu não fizer isso, vou morrer e deixar meus outros cinco filhos sem mãe”, desabafa a dona de casa, que já sofreu AVC e hoje luta contra a pressão alta e problemas cardíacos.
Na tarde de ontem, o Conselho Tutelar avisou que se Maria de Cássia não aceitar as filhas em casa, poderá ser presa. “Sinceramente, prefiro ser presa do que tê-las novamente em casa”, conclui.
Crise familiar
Em 2010, num surto de raiva, a jovem que hoje tem 15 anos contou à mãe que o próprio pai a estuprava. “Na hora, não pensei duas vezes e o denunciei para proteger minhas filhas”, conta Maria de Cássia, que era casada há 17 anos com o homem que é pai de seus sete filhos. Porém, o acusado ficou preso poucos meses e está livre. “Ele hoje ganha bem e não paga nenhuma pensão, mas a lei só está funcionando para me punir e não a ele”, reclama. Atualmente, Maria é casada com outro homem que a ajuda. “Meu atual marido ensinou meus filhos a trabalharem e todos me ajudam, menos as duas. É triste.”
Caso de maus-tratos será investigado pela DDM de Itu
Às 19h26 de anteontem o boletim de ocorrência foi registrado no Plantão Policial de Itu. Após ouvir as versões da dona de casa Maria de Cássia da Silva e das duas meninas, de 12 e 15 anos, o delegado José Moreira Barbosa Netto concluiu que, considerando a complexidade dos fatos, a apuração completa compete à DDM (Delegacia de Defesa da Mulher).
O Conselho Tutelar informa que acompanha a família há seis anos e que já era de seu conhecimento os desajustes familiares. “As crianças já chegaram a ser abrigadas, mas foram devolvidas à mãe”, relata uma das conselheiras de Itu.
As duas meninas tinham escoriações leves por causa das correntes, foram levadas à uma unidade de saúde local e passam bem.
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